Ok, três dias se passaram e eu ainda não comentei o vídeo de Alckmin. Comentarei agora.
O vídeo foi produzido meses atrás, pela SBS-TV da Austrália. O programa é o Dateline, documentário jornalístico de peridiocidade semanal que desde 1984 está no ar. Seu foco é tratar os eventos internacionais, informar aos australianos o que acontece ao redor do mundo.
No vídeo vemos mais do que o despreparo de Alckmin. Claramente dá para notar o desconforto que ele mostra ao falar sobre o assunto. Desconforto este que foi característico no primeiro semestre, durante todo aquele caos do PCC que já conhecemos.
Qual o problema da segurança em São Paulo?
Algo que eu já disse aqui neste blog diversas vezes: o problema da segurança é a péssima educação que tivemos nos 12 últimos anos de governo paulista. Mais importante até do que ter emprego, a educação FORMA um cidadão, dando-lhe mais do que conhecimento e sabedoria - com uma boa educação, uma pessoa torna-se, realmente,
cidadã.
O emprego é mera consequência.
Doze anos são mais do que o suficiente para formar um jovem. Mas durante todo esse tempo,
a única escola que realmente teve sucesso em formar jovens foi a FEBEM. As ruas são a escola de um jovem meliante, já a FEBEM seria o ensino médio e a faculdade. O emprego, todos sabem, é o crime. E o pós-doutorado fica nas cadeias, com o PCC.
O governo paulista se gaba de ter prendido um sem número de criminosos e de ter investido em equipamentos, carros e helicópteros para a polícia. Os números são maquiados, como mostram denúncias de anos anteriores. Há crimes que entram em determinada classificação, quando deveriam estar em outra. E o investimento no aparelhamento da polícia é feito por motivos políticos, pois a população - em especial os mais pobres - gosta de ver carros bonitos e helicópteros barulhentos passando pela rua, dando a sensação de falsa segurança.
Ora, com 12 anos (e agora 16) você pode fazer um planejamento de médio a longo prazo. Investindo em uma boa educação desde o começo, não haveria necessidade de gastar dinheiro equipando a polícia. Usariam esse dinheiro para outras finalidades dentro da própria segurança, como por exemplo aumentar o salário dos policiais e outros profissionais, que é dos mais baixos do país. Hoje o policial precisa arrumar seus "bicos" de segurança para poder se sustentar. Com isso o estresse aumenta, o trabalhador não descansa e fica mal preparado para proteger a população.
Há, de fato, mais criminosos na cadeia. Só que com isso o governo apenas está
aumentando o exército do PCC. Quando alguém é preso, imediatamente o PCC corre atrás para, num primeiro momento, proteger o preso. Com isso ele terá uma eterna dívida para o crime organizado, servindo-o até fim de sua curta vida. Dentro das cadeias, o PCC faz com o preso aquilo que a polícia deveria fazer com os "cidadãos de bem" aqui fora: proteger. Estando sob a guarda do PCC o preso garante que não será atacado por outros grupos (dentre eles o próprio PCC, é claro), evitará que seja estuprado e terá até mesmo acesso a ensinamentos de guerrilha e cultos religiosos. Sem contar nas regalias, com cigarros, celulares e afins.
Houve uma grave falha no planejamento da educação desse estado. Temos uma secretaria de segurança "das ruas" e uma secretaria de segurança "das cadeias", que NUNCA SE DERAM BEM (exemplo maior foi a demissão de um dos secretários durante os ataques do PCC, dizendo claramente que não gostava da outra secretaria e que o trabalho não era coordenado). E agora há outra falha no planejamento da segurança.
A solução adotada pelo governo é o problema, fará com que a situação piore hoje e atinja o inimaginável no futuro - na verdade nós imaginamos como será, apenas evitamos pensar que isso aconteça, que vire realidade.
Uma pequena amostra disso é comentada no vídeo, com o suposto aparecimento de novos (velhos?) grupos de extermínio. Até hoje, a maioria das mortes que tivemos na semana do caos do PCC não foram esclarecidas. O governo, em uma medida que lembra a ditadura militar, solicitou segredo de justiça em cada caso. Não satisfeito, o secretário de segurança pediu para que levassem até seu gabinete TODAS as fichas de homicídio durante a semana, teoricamente para maquiá-las. Hoje muitos casos estão arquivados, e a exemplo do que o governo sempre fez em São Paulo, houve uma clara tentativa de acobertar a situação.
O Serra é inteligente, ele sabe que nada disso que está aí é o correto. Ou melhor, eu ESPERO que ele saiba disso. Sua proposta para a educação - duas professoras no primeiro ano do ensino fundamental - não é o suficiente para evitar que os criminosos do futuro se tornem soldados do PCC. É preciso seguir esses garotos até o fim do ensino médio.
E o que pode ser feito de imediato para contornar - e não resolver - o problema do PCC não é "parar de prender". O choque de gestão que os tucanos tanto gostam de dizer deveria ser feito dentro das cadeias, estudando cada caso e liberando os presos que já cumpriram sua pena, ou dando condicionais aos que merecem esse artifício. A tolerância zero não pode ser adotada, pois fará aumentar a raiva do PCC, alimentando a facção criminosa. Não digo que devemos pegar leve com eles, mas sim que
não devemos é pegar pesado.
Uma força-tarefa nacional, com o exército nas ruas, não ajudaria. A não ser que a situação fique em um patamar extremo, inaceitável. O governo federal poderia ajudar pegando para sí os líderes do PCC, levando-os para a cadeia de segurança máxima do Paraná, inaugurada meses atrás.
Em São Paulo, o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) não precisaria adotar babaquices como obrigar os presos a se vestirem de formas ridículas, ou a tirar deles o acesso à TV. Que eles se vistam de maneira decente e que tenham uma boa TV para se entreter - apenas com programas educacionais, é claro.
O governo deveria EXIGIR das empresas telefônicas bloqueadores de celular em cada cadeia do estado. Esses bloqueadores são caríssimos, e o estado não pode arcar com eles sozinho. E, muito menos, impedir que o sinal dos celulares não chegem às residências das pequenas cidades com grandes cadeias. As telefônicas são responsáveis pelos sinais, portanto elas que cuidem para que eles não sejam utilizados para o crime.
Já o estado continuaria fazendo sua parte com revistas dos visitantes e outras mensais dentro das cadeias, combatendo a corrupção dentro do sistema prisional, unificando as secretarias e tendo pessoas competentes cuidando da pasta.
Por fim, ainda é necessário que novos presídios sejam construídos, pois a superlotação dos que já existem é um dos caminhos para a rápida proliferação do PCC.
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